
A expressão “bode expiatório” é amplamente utilizada no cotidiano para se referir a alguém que é injustamente responsabilizado por erros ou falhas alheias. No entanto, sua origem é profundamente enraizada na tradição bíblica do Antigo Testamento, mais especificamente no ritual do Dia da Expiação (Yom Kippur), descrito no livro de Levítico, capítulo 16.
• Contexto Bíblico e Ritual Judaico
No antigo Israel, o Dia da Expiação era o momento mais solene do calendário religioso. Era o dia em que o sumo sacerdote realizava um ritual para purificar o povo de seus pecados e restaurar a comunhão com Deus. Esse ritual envolvia dois bodes:
Um bode para o Senhor – Este era sacrificado como oferta pelo pecado. Seu sangue era levado ao Santo dos Santos e aspergido sobre o propiciatório da arca da aliança, simbolizando a expiação dos pecados do povo.
O bode emissário (ou bode expiatório) – Este não era sacrificado. Em vez disso, o sumo sacerdote impunha as mãos sobre sua cabeça, confessando os pecados de toda a nação. O bode, carregando simbolicamente os pecados do povo, era então levado ao deserto e solto, afastando-se da comunidade, como sinal de que os pecados haviam sido removidos.
O termo hebraico usado para esse bode é “Azazel”, cuja interpretação é debatida. Alguns estudiosos entendem Azazel como o nome de um lugar desértico ou de um ser espiritual, enquanto outros o veem como uma representação simbólica da remoção do pecado.
• Significado Espiritual e Teológico
O bode expiatório representa a transferência da culpa e a libertação do juízo divino. É uma imagem poderosa da misericórdia de Deus, que oferece meios para que o pecado seja afastado da comunidade. Esse ritual apontava profeticamente para a obra redentora de Jesus Cristo, que, segundo a teologia cristã, tornou-se o verdadeiro “bode expiatório” ao carregar sobre si os pecados da humanidade e morrer em lugar dos culpados.
Como está escrito em 53.4-7:
⁴ Verdadeiramente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputamos por aflito, ferido de Deus e oprimido.
⁵ Mas ele foi ferido pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e, pelas suas pisaduras, fomos sarados.
⁶ Todos nós andamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho, mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos.
⁷ Ele foi oprimido, mas não abriu a boca; como um cordeiro, foi levado ao matadouro e, como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca.
• Uso na Linguagem Popular
Com o tempo, a expressão “bode expiatório” passou a ser usada fora do contexto religioso, ganhando um sentido figurado. Hoje, ela descreve qualquer pessoa ou grupo que é culpabilizado injustamente para que outros escapem da responsabilidade. É comum em contextos políticos, sociais e até familiares, onde alguém é escolhido para “levar a culpa” por algo que não fez.
• Reflexão Pastoral
A figura do bode expiatório nos convida a refletir sobre a justiça, a misericórdia e a responsabilidade. Em um mundo que frequentemente busca culpados em vez de soluções, o ensinamento bíblico nos lembra que o verdadeiro perdão exige reconhecimento do erro, arrependimento e graça. E que, em Cristo, temos não apenas um substituto, mas um Salvador que voluntariamente se fez maldito por nós, para que fôssemos reconciliados com Deus.



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